Vinil Farofa Carioca - Moro No Brasil (2LP / LP1 Vermelho + Verde (Marrom) / LP2 Fumê PIXO Translúcido Esfumaçado)
Alô Canaveral, alô Sumaré! Alô Salvador, Pernambuco, Florianópolis, Curitiba! Alô mundo! O Farofa Carioca está de volta! Liderado por Seu Jorge e Gabriel Moura, o Farofa Carioca e a Universal Music Brasil lançam pela primeira vez em vinil, o álbum “Moro no Brasil” (1998) remixado, remasterizado - inclusive em versão Dolby Atmos (áudio espacial). Como já anunciava Seu Jorge na abertura do disco: “Um prato cheio de alegria, poesia e diversão enchendo a barriga do povão de ritmo e brasilidade!”.
O ÁLBUM - Diante de todo esse contexto, conceito e qualidade artística, o primeiro álbum do Farofa Carioca foi disputado pelas gravadoras após um concorrido show no antigo Ballroom, no Rio de Janeiro. O potente samba funk da banda, conduzido por um naipe de metais eletrizante, uma cozinha percussiva de tirar o fôlego e arranjos de cordas diferenciados no pop da época, formavam o tempero desse prato que Seu Jorge, Gabriel Moura, o francês Bertrand Doussain e a big band serviam. Seja numa roda de samba na praia de Ipanema ou nos principais palcos do Brasil, como os festivais Free Jazz e Abril Pro Rock.
O disco traz sucessos como a faixa-título “Moro no Brasil”, um samba-funk ácido e carnavalesco resumindo o espírito do grupo: “Moro no Brasil, não sei se moro muito bem ou muito mal; só sei agora faço parte do país; a inteligência é fundamental”, avisava o refrão. “São Gonça”, música que virou hit instantâneo ao avisar “Pretinha, faço tudo pelo nosso amor”. “Bebel”, um groove-rap-percussivo com metais caprichados, percussão eletrizante e os ataques de coro em uníssono contagiando o refrão. Outro sucesso do grupo, “Doidinha” - com citação de “Mulata Assanhada” (Ataulfo Alves) e inspiração em “Garota de Ipanema” (Tom Jobim/Vinicius de Moraes) - é até hoje uma das mais pedidas nos shows do Seu Jorge ou Farofa.
Parte do DNA natural da banda, as questões sociais e raciais saltam no disco no reggae “A Carne”, com participação do cantor Fagner, que viria a ser regravada por Elza Soares anos depois eternizando o verso “A carne mais barata do mercado é a carne negra”; na crônica “A Lei da Bala”, sobre a vida e violência nos morros da cidade, unindo suingue, divisões rítmicas, funk carioca e um storytelling conhecido da periferia. Assim como na envolvente “Jacaré”, quando, já na introdução, uma trabalhadora reclama das condições do transporte e do país (“É mal administrado mesmo!”) e Seu Jorge emenda: “Aí eu posso falar, tô na minha área, na condição”, e solta como uma metralhadora a letra da música, alertando e convocando o povo para acordar contra os desmandos políticos - “Tiram onda com o seu dinheiro de contribuinte o ano inteiro, deitado numa rede, na sua casa de praia caçando jacaré no pantanal”. Isso lembra algo?
Com uma identidade regional muito forte, o Farofa Carioca também é filho das misturas étnicas brasileiras. As causas identitárias e dos povos originários tão discutidas hoje já faziam parte dos pilares artísticos do grupo. Como na provocativa “Índio”, que mistura rock, psicodelia, marcações indígenas e percussão em uma letra sarcástica e contundente. A música foi dedicada ao líder indígena Galdino, assassinado por jovens em Brasília, e a gravação contou com os integrantes do grupo A Parede, citações da ópera “O Guarani” (Carlos Gomes) e sampler da locução do Repórter Esso, Heron Domingues.
O tema também é apresentado na releitura de “Timbó”, única faixa não autoral do disco, um samba de terreiro gravado por Jamelão em 1957 para a escola Império Serrano, que falava sobre um mítico feiticeiro africano criado na ilha de Marajó (PA). “Ela nos conecta com a nossa ancestralidade, a espiritualidade que faz todo o sentido quando se fala de povo brasileiro. Tem um arranjo maravilhoso de cordas do Maestro Paulo Moura, meu tio, que também faz o solo de clarineta no final. A faixa ainda conta com a voz e o tantã suingado do Sandrinho Carioca, que é o coração do Farofa”, opina Gabriel Moura.
O álbum finaliza com duas crônicas, infelizmente, bastante corriqueiras em nossa sociedade: “Rabisca Robson”, um groove teatral impactante sobre o drama juvenil da dependência em drogas, com sampler de um diálogo entre Jair Rodrigues e Otacilio da Mangueira extraído da música "O Carioca", de Jair; e “Menino da Central”, uma black music xoteada, com participação ilustre de Sivuca na sanfona, homenageando os garotos que vendem sortidos na Central do Brasil: “Espelho vivo de uma causa social”, sublinha a composição.
Repertório dos LPs:
Disco 1 lado A:
1. Dudivara (Sérgio Granha / Carlos Moura) Sample: Locução: "Devemos nos concentrar nesse momento histórico" - Fatos e Fotos - 1969 - Narrado pela Voz Da América
2. Moro no Brasil (Gabriel Moura, Seu Jorge, Wallace Jefferson, Jovi Joviniano)
3. A Lei da Bala (Gabriel Moura, Seu Jorge, Jovi Joviniano, Sandrinho)
Disco 1 lado B:
4. São Gonça (Seu Jorge)
5. Bebel (Fernando Moura, Gabriel Moura, Jovi Joviniano) Sample: Planet Rock (A.Baker/J.Robie/Soul Sonic Force)
6. Doidinha (Fernando Moura, Gabriel Moura, Jovi Joviniano, Carlos Negreiro) Incidental: Mulata Assanhada (Ataulfo Alves)
Disco 2 lado A:
7. A Carne (Seu Jorge, Marcelo Yuca, Ulisses Cappelletti) Participação: Fagner
8. Timbó (Ramon Russo)
9. Jacaré (Seu Jorge, Sérgio Granha)
Disco 2 lado B:
10. Índio (Gabriel Moura, Sérgio Granha, Seu Jorge) Incidental: O Guarani (Carlos Gomes) Sample Credits: Locução "Repórter Esso" com Heron Domingues
11. Rabisca Robson (Seu Jorge, Sérgio Granha, Sandrinho, Jovi Joviniano, Gabriel Moura) Sample: Locução "Repórter Esso" com Heron Domingues / Diálogo entre Jair Rodrigues e Otacilio da Mangueira extraído da faixa "O Carioca" do LP - Jair Rodrigues
12. Menino da Central (Maury Santana, Seu Jorge, Wallace Jefferson, Maury Santana) Faixa escondida: Hino Nacional (a capella) - (Joaquim Duque Estrada / Francisco Manuel da Silva)